quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Aristóteles e a arte

Dependendo da ocasião, citar Aristóteles pode não ser a melhor das ideias. Pelo menos quando o assunto é uma arte produzida com “puro sentimento”, como a da Sarinha.

E já que a nossa artista não costuma levar desaforo para casa, resolveu responder à citação de Aristóteles feita pelo Philinus na lata. Ou melhor, com a lata.

Mas o que, afinal, Aristóteles pensava sobre a arte?

Para esse antigo filósofo grego, a arte é, basicamente, a capacidade de transformar os materiais, dando-lhes uma forma. A natureza nos oferece uma série de materiais (madeira, mármore, algodão, borracha, sons, etc) que, por estarem em estado bruto, não apresentam um aspecto ou configuração definida. Quando o homem se apropria desses materiais e os transforma de maneira ordenada, não aleatória como na natureza, ele cria algo belo. Ele cria arte. Uma peça de mobília bem feita, por exemplo, pode ser uma obra de arte.

Para Aristóteles, uma coisa bela é simplesmente o resultado do domínio que o artista tem de sua técnica. O objetivo maior da técnica é transformar aquilo que está em estado natural em algo ordenado e simétrico, onde as diferentes partes formam um todo harmônico e belo.

A música é um bom exemplo. Quantas combinações de notas musicais são possíveis? Nesse caso, as notas musicais são as diferentes partes e a melodia é o resultado da organização dessas notas em um todo – a música – ordenado e harmonioso. Para se criar a melodia, uma sucessão coerente de sons e silêncios deve ser executada. Do contrário, só ouviremos ruídos.

Para Aristóteles, portanto, a arte necessita de uma organização e uma composição harmoniosa entre as partes disponíveis.

O filósofo grego também defendia que a arte deve sempre criar algo novo. Ao fazermos uma pintura, podemos até nos inspirar em um modelo original, mas jamais conseguiremos copiá-lo. Toda criação artística é uma representação e uma transformação, não uma cópia. Se olharmos a natureza com atenção, certamente encontraremos muitas falhas ou deficiências: um tronco torto, uma fruta deformada, uma semente podre. Essas imperfeições não precisam aparecer na arte, já que esta tem a possibilidade de “corrigir” as falhas naturais e representar os objetos em seu estado de perfeição.

Podemos dizer que, para o filósofo, a arte não seria nem real nem ilusão, e sim algo situado entre os dois.

Bem, quem sabe se da próxima vez o Philinus explicar para a Sarinha o que pensava Aristóteles a respeito da arte ele não escape de outro banho de tinta? Hum… Pensando bem, é melhor não…

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